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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A não neutralidade da ciência em Tomanik

A não neutralidade da Ciência em Tomanik(2004)


Eduardo Tomanik em seu livro “Um olhar no espelho” trata sobre a não neutralidade da ciência e esse tema gera sempre muita discussão entre os cientistas. A ciência não precisa ser neutra para ser considerada um elemento fundamental para o conhecimento sobre os fatos? Quando um cientista propõe uma hipótese e a investiga, sem a neutralidade, essa hipótese não seria sempre confirmada? Os métodos científicos e a analise dos pares não garante a neutralidade da ciência?
A neutralidade pressupõe, do ponto de vista científico, o não envolvimento do cientista com o objeto de sua ciência, o que para Tomanik é impossível. O cientista esta completamente envolvido com sua pesquisa em todos as suas etapas. Vejamos um modelo básico para planejamento de uma pesquisa proposto por Tomanik para os iniciantes na Ciência.


Adaptado de Tomanik(2004)

Eduardo Tomanik ao propor esse modelo, esclarece que não é o único modelo correto, alem de exemplificar durante todo seu livro, que o uso de um manual para todo o tipo de pesquisa pode levar a grandes erros. Porem, vamos nos ater as fases. Na fase do tema, a escolha é do pesquisador ou do seu grupo de pesquisa, ou seja, é uma definição subjetiva, baseada em interesses pessoais.
Fundamentação teórica é a busca por autores científicos que tratam o tema proposto na fase inicial. É nessa fase, segundo Tomanik, que se separa uma pesquisa científica de uma pesquisa baseada no senso comum. Porem, o pesquisador é que escolhe os autores, segundo os seus critérios.
Definição detalhada do problema é uma fase completamente definida pelo pesquisador. Que aspecto desse tema é importante? O que essa pesquisa pretende responder?
A hipótese, que é uma resposta provável e provisória ao problema também é fruto do pesquisador e seu trabalho nas fases anteriores.
Os procedimentos e métodos utilizados dependem da escolha dos objetivos da pesquisa. Apenas quando se sabe o que pesquisar é que se pode definir o como.

Podemos observar que em todas as etapas do planejamento a definição é do pesquisador, e suas escolhas serão baseadas em seus conhecimentos, crenças, necessidades e objetivos. Não é possível pensar em uma neutralidade completa da ciência, pois ela é produzida por cientistas que precisam tomar decisões, fazer escolhas e toda escolha não é neutra.
Porem, o pesquisador não tem liberdade de fazer o que quiser. Se assim fosse, não existiria uma continuidade do conhecimento. Não seria possível aproveitar de um trabalho anterior, pois esse conhecimento seria fruto apenas de uma pessoa e serviria apenas para o seu mundo. O processo de conhecimento é sobre algo(objeto) e visa ser aproveitado. Sendo assim a descrição do objeto, mesmo que seja totalmente subjetiva, precisa ser clara e o mais próxima da realidade. Quais aspectos foram considerados e quais não foram considerados? Quais cientistas também tem a mesma visão sobre esse fenômeno? E quais observam de forma diferente? A base teórica, os objetivos, o pesquisador, a época e outras variáveis precisam ser claras para compreender a base empírica e as conclusões de um trabalho científico.
A não neutralidade da ciência colocada por Tomanik não diminui a sua importância na aquisição do conhecimento sobre a realidade, apenas nos demonstra que não podemos considerar apenas esse conhecimento como verdade absoluta. Todo conhecimento produzido tem seus limites e seus campos de observação, compreender esses limites faz parte do processo de compreensão e produção do conhecimento científico.

TOMANIK, Eduardo Augusto. O olhar no espelho: “conversas” sobre a pesquisa em Ciências Sociais. Maringá: Eduem, 2004.

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